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Cairo: a origem das pirâmides está no Vale Necrópole de Saqqara

Nosso primeiro dia no Cairo começou cedo. Depois de um café da manhã reforçado com vista às pirâmides de Gizé, saímos em direção ao Vale Necrópole de Saqqara.

Apesar da maioria dos turistas associar o Egito com as Pirâmide de Gizé, o país conta com cerca de 118 pirâmides no seu território, e a cada ano se descobrem alguma mais. A maior parte delas se distribue pelo deserto, entre o planalto de Gizé e o oásis de Al Fayum. Dentre elas está Saqqara, a pirâmide escalonada do Imperador Djoser, a pirâmide vermelha e a pirâmide inclinada de Dahshur, três pirâmides que representam as estapas formativas da arquitetura que alcançou seu cenit com a grande pirâmide de Quéops.

Pirâmide de Saqqara

A história dessas três pirâmides começa na cidade de Menfis, fundada pelo Imperador Menes que unificou as terras do Alto e Baixo Egito, onde se encontra o Delta do Nilo. Durante a maior parte do período faraônico, Menfis foi a capital do Egito, só sendo trasladada à Tebas (atual Luxor) no Império Novo.

As duas primeiras dinastias egípcias se dedicaram a construir e consolidar o país. Foi só na III e IV Dinastias que a cultura egípcia floresceu e sentou as bases da história que conhecemos. Foi o início do esplendor que teve como uma das manifestações icônicas, a construção das primeiras pirâmides. Saqqara foi o centro das primeiras manifestações de arte.

Antes de entrar no tema das pirâmides, é importante entender que a cultura egípcia considerava o lado oriental do Nilo, onde nasce o sol, a cidade dos vivos, e o lado ocidental, onde o sol se põe, a cidade dos mortos, onde ficavam os complexos funerário e as pirâmides.

O enorme cemitério da antiga capital Menfis, do lado ocidental do Nilo, ocupa uma área de 7km do deserto e se manteve ativo por mais de 3.500 anos. Hoje representa um dos principais sitios arqueológicos do país. A necrópole está localizada na zona de cultivo do Nilo e guarda os restos mortais de faraós, administradores, generais e pessoas importantes que trabalhavam para os faraós ou que queriam estar perto deles. O seu nome Saqqara vem do deus Sokar, o deus menfita dos mortos.

Os faraós do Império Antigo foram enterrados nas 11 pirâmides principais de Saqqara e seus súditos nas diversas tumbas espalhadas pela necrópole. A maior parte de Saqqara ficou coberta de areia até o século XIX, quando o egiptólogo francês Auguste Mariette começou a escavá-la, e desde então uma série de outros descobrimentos se seguiram, dentre eles, múmias e pirâmides.

Pirâmide vermelha ao fundo

Ao entrar em Saqqara, a primeira visita será a um corredor de colunas e uma sala hipóstila, que é a ante sala para o interior do complexo de Djoser. São 40 colunas entalhadas em pedra ora representando fardos de papiros (símbolo do baixo egito) ora de lotus (símbolo do alto egito) que sustentavam o teto do templo da necrópole, também construído por Imhotep. As paredes estão restauradas e o teto, que era de madeira, agora está parcialmente restaurado em concreto.

Das 14 portas falsas (que serviam para que a alma pudesse voltar e visitar o corpo e consumir as oferendas) resta 1 entalhada em pedra e pintada para que parecesse de madeira, como eram feitas anteriormente.

A sala hipóstila dá ao Grande Pátio Sul, onde ficam a Casa do Pátio Sul e a Casa do Pátio Norte que representam os dois principais santuários do Alto e Baixo Egito, simbolizando a unidade do país. Logo mais está a pirâmide de Djoser.

Em 2650 a.C. o faraó Djoser encomendou ao seu arquiteto Imhotep (que foi endeusado posteriormente) a construção da pirâmide escalonada. Ela é o monumento de pedra mais antigo e importante do mundo. Mede 60m de altura e está rodeada por um imenso recinto funerário que antigamente era cercado por um muro de pedra calcária de 1645m de largura.

Antigamente os túmulos reais eram construídos em adobe e em forma de prisma (Mastabas) que coroavam as tumbas subterrâneas onde eram enterrados os faraós. Imhotep aperfeiçoou essa idéia e converteu a mastaba em uma pirâmide de pedra entalhada, através de seis fases de construção, colocando uma mastaba em cima da outra até alcançar 6 andares de 60 m de altura que se recobriram com pedra calcária branca.

Mastaba

Imhotep, que servia ao faraó Djoser, é considerado o primeiro arquiteto e médico da humanidade. Foi o criador da arquitetura em pedra no Egito. Seu túmulo, em pedra maciça, está exposto em um das salas do Museu de Imhotep, em forma de Mastaba (primeiras formas de túmulos egípcios) também localizado dentro do complexo.

Outras tumbas que valem a pena conhecer são a Pirâmide do faraó Teti (4400 anos), uma das primeiras pirâmides onde surgiram os textos sagrados chamados ‘textos das pirâmides” e o Túmulo de Kagemny (4400 anos) que contém cenas da vida quotidiana em Menfis.

Entrando na pirâmide de Teti

A pirâmide de Teti, assim como a de Djoser, também se construiu escalonada e revestida de pedra calcária, mas hoje somente se conserva uma montanha de terra, mas não se deixe enganar. O interior está muito bem conservado e os detalhes e afrescos são impressionantes.

Teti foi considerado o primeiro faraó da VI Dinastia e sua pirâmide conta com 52m de altura e 78m de largura. No seu interior se vêem os primeiros “textos das pirâmides”, que segundo nosso guia, eram fórmulas mágicas que serviam para orientar o caminho das almas, uma espécie de oração, entendo.

Dentro da câmara funerária, o sarcófago de Teti está intacto e é o primeiro a apresentar inscrições.

Textos das pirâmide: instruções para a alma do livro dos mortos

Kagemny foi um dos mais importantes ministros do faraó Teti, e está representado em sua mastaba disfrutando as riquezas da terra.

As paredes relatam como era a vida em Menfis durante a VI Dinastia, retratamdo os pescadores em barcos de papiro, vacas sendo ordenhadas, homens alimentado animais e todas as espécies de animais e insetos que existiam naquela época como borboletas, hipopótamos e crocodilos. Também estão representados os bailes, os acróbatas e as oferendas à Kagemny.

Ao visitar templos e tumbas egípcias, um sem fim de cenas faraônicas nos deslumbram o olhar, mas o mais interessante é observá-las para entender o significado de um determinado templo ou mesmo como funcionava a vida naquela época, como as infinitas oferendas aos deuses, as atividades cotidianas como pesca, caça, pessoas assando pães, colhendo frutas e atividades modernas como cenas de cabeleireiros, manufatura de perfumes, pessoas maquiando-se, fazendo manicure, recebendo massagens, fazendo alongamentos etc. Além disso, se notam que homens e mulheres usavam pintura negra nos olhos, que além do valor estético, servia para reduzir o brilho do sol nos olhos.

Saqqara é uma visita imperdível e base para a próxima parada, as Pirâmides de Gizé, que foram a evolução e ápice da arte das pirâmides.

 

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