Zaragoza começou a tomar notoriedade no século 14 a.C. quando foi transformada em um assentamento para soldados veteranos do Império Romano. Ela rapidamente se tornou um importante porto comercial que ligava Roma à sua Província Hispania. Foi chamada de Cersaraugusta em homenagem ao Imperador César Augusto e teve seu apogeu nos séculos I e II quando ganhou a maioria dos seus edifícios como o Foro Romano, o porto, os banhos públicos, o teatro e o anfiteatro – além da sua própria muralha de defesa – tudo o que uma cidade romana por excelência necessita!
Veja o meu vídeo incrível sobre Zaragoza no Youtube: https://youtu.be/_H5eVLjXxI4
Por volta do ano de 714 ela foi invadida pelos muçulmanos (daí vem seu nome – do árabe Saraqusta) que a transformaram em uma das mais importantes cidades comerciais da época com sede no Palácio de la Alfajería.
Foi somente em 1118 que ela voltou às mãos dos cristãos com Afonso, o Batalhador, e se tornou capital de Aragão. A partir daí vária igrejas começaram a ser construídas, dentre elas a mais famosa, a da Nossa Senhora do Pilar.
Todo esse passado e mistura de culturas deixou um legado histórico e arquitetônico impressionante na cidade o que faz com que ela, além de classificada como uma das mais bonitas da Espanha ganhase o nome de Senhora das Quatro Culturas. Nós tivemos a sorte de visitá-la na Semana Santa, em pleno Domingo de Páscoa, considerada uma das maiores festas da Espanha.
Começamos a visita pelo ponto alto da cidade: a Praça e Basílica do Pilar, definitivamente um dos lugares mais bonitos que já visitei.
Construída em 1515, em cima de um antigo templo romano, a Basílica do Pilar, é um dos principais templos barrocos da Espanha e só foi totalmente terminada em 1950 depois do levantamento das últimas torres de decoração da fachada de pedra.
A vista é gratuita, somente é preciso pagar para subir na Torre.
O seu interior é belíssimo: são três naves decoradas com pinturas clássicas, pilastras e anjinhos.

O grande destaque fica por conta da Santa Capilla que é uma capela dentro da Igreja onde está colocada a Imagem da Nossa Senhora do Pilar dentro de um envoltório de prata de mármore verde em cima de uma coluna de jaspe.

Aliás a lenda conta que essa coluna foi entregue pela Nossa Senhora à Santiago (de Compostela) – na época ainda Apóstolo de Jesus – no momento em que sua fé começava a fraquejar e ele se perguntava se valia a pena seguir tentando converter os habitantes de Cesaraugusta ao Cristianismo. Nossa Senhora teria aparecido em “carne”, pois ainda vivia em Jerusalém, e lhe entregou a coluna sobre a qual se deveria construir um templo, representando a fé inabalável.
Essa cena está representada em duas das pinturas do altar: a primeira representa a “Vinda da Virgem diante de Santiago”, obra de José Arellano e a segunda do pintor Antônio Velazquez “A vida da Virgem e a construção da Santa Capela”.
Essa aparição aconteceu no dia 2 de janeiro do ano 40 d.C. e por isso todo dia 2 de cada mês o manto que reveste a Nossa Senhora e cobre a coluna de jaspe é retirado. Demos tanta sorte de estar ali em um Domingo de Páscoa e ainda por cima poder volta na segunda-feira, que era dia 2 de Abril e ver a coluna sem o manto. Aliás a Basílica tem uma coleção de mais de 300 mantos confeccionados pelas Madres Capuchinas de Zaragoza desde 1762!

De frente para o altar só se vê a placa de mármore que cobre a coluna de jaspe, atrás do altar da Santa Capilla está o Humilhadeiro, uma abertura na parede que dá acesso à coluna de Jade que deve ser “beijada” enquanto você faz seu pedido. O próprio Papa João Paulo II nas suas duas visitas à Basílica se ajoelhou e beijou a coluna.
Do lado da Santa Capilla estão expostas duas bombas da Guerra Civil Espanhola que tentaram destruir a Basílica, mas que milagrosamente não explodiram, deixando-a intacta.
Outro tesouro da basílica fica por conta do afresco Regina Martyrum pintado por Francisco Goya. No coreto há outra pintura sua.
De volta à Praça do Pilar tivemos a sorte de assistir à uma sequência de procissões super bonitas.
Ainda na praça visitamos La Seo, outra catedral românica, que depois de várias reformas é hoje gótica, construída em cima do Foro Romano e aproveitando a estrutura de uma antiga mesquita.

Entre a Basílica del Pilar e La Seo, está a Lonja de Zaragoza, um edifício renascentista do século XVI que hoje abriga a Prefeitura da Cidade. É possível entrar porque sempre há exposiçoes gratuitas no saguao.


Bem em frente a La Seo, fica a entrada dos Museus Arqueológicos Romanos. Todos os edifícios romanos da cidade, com excessão de algumas partes da Muralha, estão hoje no subsolo da cidade – isso mesmo – Zaragoza foi reconstruída em cima de Cesaraugusta!

Ee isso é muito comum de se ver aqui na Europa – depois de cada invasão, o dominador destrói a cidade dominada e constrói outra por cima. Esse subsolo da cidade pode ser visitado dentro dos Museus Romanos de Zaragoza que formam a Ruta Cesaraugusta: 1. Museu do Foro Romano; 2. Museu do Porto Fluvial; 3. Museu das Termas Públicas e 4. Museu do Teatro.
Ainda na Praça, em frente à Basílica do Pilar está o Museu de Goya, o famoso pintor espanhol que naceu em Zaragoza em 1746. Ele morou em 9 casas em Zaragoza, mas infelizmente nenhuma foi conservada ou transformada em casa-museu. Resta o museu, que nao nos deu tempo de visitar, mas dizem ser maravilhoso e os ingressos podem ser comprados online no site.
Na outra ponta da Praça passamos pela Fonte da Hispanidad que representa todos os países que compartem o idioma español. Há uma mapa gigante da América do Sul representando os povos que compartem a cultura espanhola.
Ainda na Praça do Pilar, próximo à entrada da Igreja San Juan de los Panetes, está parte da antiga muralha romana da cidade e uma estátua de Cesar Augusto.
Praticamente em frente à Basílica, cruzando o Rio Ebro está a Ponte de Pedra, que cosntruída no século XV oferece uma das vistas mais bonita da Basílica!
De lá seguimos a orla do rio Ebro até chegar ao Palácio da Aljafería, sede do período muçulmano, essa construção fortificada do século XI, junto com a Mesquita de Córdoba e a Alhambra em Granada são os maiores exemplos de arte mudéjar da Espanha, reconhecidos como Patrimônio da Humanidade pela Unesco.
O interior do palácio com patio aberto de laranjas e detalhes da arquitetura deixam marcado o estilo árabe da construção.
A partir do século XII ele passou às mãos dos cristãos e se converteu no Palácio dos Reis Aragoneses: Fernando de Aragão e Isabel de Castilla. Desse período se destaca a Sala do Trono toda decorada em arte mudéjar, que é um estilo de arte exclusivo da Espanha.
Depois que o árabes foram expulsos da Península Ibérica, alguns muçulmanos foram perdoados e receberam a autorização para ficar na Espanha desde que trabalhassem na conversão dos templos Islâmicos à Catalólicos, e assim surgiu a arte mudéjar, da fusão hispano-muçulmano. Hoje o Palácio abriga o Parlamento de Aragão.

Nós justamente fomos em um dia que a visita era grátis, mas é possível reservar a visita guiada tanto ao Palácio quanto ao Paralamento no próprio site.
Na volta fomos direto para o Centro Histórico da cidade em especial no bairro chamado El Tubo que é formado por um emaranhado de ruazinhas super estreitas que abrigam o maior número de bares e restaurantes por metro quadrado.
É a principal área de tapeo da cidade; cada bar tem sua especialidade e a regra é ir passando de bar em bar e provando o que a culinária espanhola tem de melhor: as tapas! Veja o post aqui.